O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei , disse que os protestos no Egito são parte do “despertar islâmico” no Oriente Médio e no norte da África. Para ele, as manifestações são uma “extensão natural” da Revolução Islâmica no Irã em 1979.
A Irmandade Muçulmana, porém, talvez não compartilhe dessa visão. O maior grupo de oposição no Egito e o único capaz de, em tese, levar adiante uma revolução islâmica no país não têm interesse nisso, segundo escreve a cientista política Carrie Rosefsky Wickham no principal artigo da última edição da revista Foreing Affairs.
“Retratar a Irmandade como desejosa e capaz de tomar o poder e impor sua versão da sharia é uma caricatura que exagera certos aspectos da Irmandade e ignora outros, além de subestimar a extensão da mudança pela qual o grupo passou ao longo do tempo”, diz Wickham. Para ela, a ala reformista da Irmandade é a que está envolvida nos protestos egípcios e quer participar de maneira legítima de um sistema político livre e representativo.
É claro que, para o Irã, interessa que os protestos no Egito sejam retratados como extensão de sua revolução, uma vez que seu projeto sempre foi o de estabelecer hegemonia no mundo árabe-muçulmano, sobretudo nos países que têm algum tipo de alinhamento com os EUA.
Mas a oposição iraniana tratou de por as coisas nos devidos termos. Mir-Hossein Mousavi , líder do movimento dissidente “verde” no Irã, declarou que os egípcios estão protestando porque o governo “roubou as últimas eleições” – numa alusão nada sutil à situação do próprio Irã, cujo governo é acusado de ter fraudado a votação em que o presidente Mahmoud Ahmadinejad se reelegeu. Ou seja, foi uma advertência de Mousavi para Khamenei e Ahmadinejad – a de que “governos corruptos e ditatoriais”, como o egípcio e o iraniano, mais cedo ou mais tarde, caem.